*Psicóloga
Embora nos últimos anos tenhamos aprendido a aceitar e a não discriminar as pessoas portadoras de SIDA ou com doenças como o cancro ou a diabetes, não podemos dizer que o mesmo aconteceu na mesma medida em relação às pessoas com problemas na área da Saúde Psicológica.
Este estigma social que ainda se verifica em relação às patologias mentais, assim como à ida ao Psicólogo, contínua a afetar uma grande percentagem da sociedade.
Ao longo dos anos começou a ser mais comum procurar a ajuda de um Psicólogo quando não se está bem (e isto não significa necessariamente ter uma patologia do foro mental), contudo os mitos associados e a falta de informação ainda levam à existência de muitos preconceitos e julgamentos infundados.
A maioria de nós acha que todos temos a obrigação e a capacidade de controlar os nossos sentimentos, emoções e comportamentos. Por exemplo, se estivermos a falar no caso de uma criança com problemas comportamentais, todos achamos que são os pais e os professores que devem resolver o assunto, como se estes fossem obrigados a ter todas as ferramentas e conhecimentos para o fazer. Por outro lado, quando os pais procuram um profissional da área da Saúde Mental para os ajudar são, por diversas vezes, criticados pela sociedade porque “pai que é pai deve saber o que fazer sem necessitar de ajuda externa”.
Temos de ser honestos e assumir que todos nós, em algum momento da nossa vida, já fomos preconceituosos e já tivemos este tipo de pensamentos.
O estigma social associado à Saúde Psicológica continua a existir porque as dificuldades dos pacientes são muitas vezes invisíveis (não se vêm como uma perna partida ou como uma ferida exposta); porque se manifestam através de comportamentos, pensamentos e sentimentos que achamos serem fáceis de controlar e, pior, achamos que todos temos a capacidade de os controlar sem recorrer a ajuda de outros; porque existe a ideia generalizada de que são apenas fases ou que tudo vai passar com o tempo; e porque muitas vezes o nosso vocabulário nos trai ao afirmar que quem vai ao Psicólogo é “maluco”.
Muitas vezes aqueles que recorrem a ajuda psicológica são designados (de forma errada) como sendo perigosos, incompetentes, exagerados, desesperados por chamarem a atenção dos outros ou culpados pelo problema em causa. Todos estes mitos levam a uma discriminação dolorosa em relação a todos aqueles que têm algum tipo de problema ou que precisam de ajuda numa dada altura da sua vida.
E não sejamos hipócritas, qualquer um de nós, em qualquer fase da nossa vida, pode precisar de ajuda e procurar um Técnico de Saúde Mental, por isso será que vale a pena estarmos a discriminar os outros? Será que não estamos apenas a atirar pedras para o ar que nos poderão cair em cima um dia mais tarde?
Se o estigma social afeta cerca de setenta e cinco por cento das pessoas com problemas de Saúde Psicológica, não nos podemos esquecer que associado ao estigma social surge a auto-estima. Esta afeta a maior parte das pessoas (para não dizer todas) que vivenciam este tipo de problemas.
Obviamente que ao serem discriminados pela sociedade onde a maioria das pessoas desenvolve crenças preconceituosas e erradas sobre aqueles que necessitam de algum tipo de ajuda, estas pessoas passam a acreditar em tudo o que se diz sobre elas e a considerar que o seu problema de Saúde Psicológica é aquilo que os outros dizem ser. Muitos chegam a acreditar que realmente deveriam ser mais “fortes” e resolver sozinhos as suas dificuldades, outros consideram-se “fracos” e sentem vergonha ao procurar ajuda. Outros ainda, vivem anos a fio num sofrimento silencioso porque pensam que assim tem de ser.
Não, não tem de ser assim. Não tem de ter medo ou vergonha de procurar ajuda. Não tem de aceitar como verdades absolutas a crítica da sociedade que se acha conhecedora de tudo. Não tem de viver uma vida em sofrimento porque se nós existimos é para vos ajudar. Não para vos diminuir, mas sim para vos acrescentar. Acrescentar saúde, acrescentar qualidade de vida, e, acima de tudo, acrescentar amor-próprio.
Vera Silva Santos