Há quem considere que a forma do ser humano desistir da vida é o suicídio, ou seja, é pôr termo à vida em si mesma, terminando com ela de uma forma definitiva. Contudo, eu discordo por completo deste pensamento.
Discordo porque ao longo dos anos de exercício desta profissão tenho visto demasiadas pessoas mortas em vida. Poderia dizer que já me habituei a ver situações destas entrarem-me pela porta do consultório, mas a verdade, é que não é de todo fácil habituarmo-nos a algo que nos permite ver dor e sofrimento no olhar destas pessoas.
Quantas pessoas conhecemos que desistiram de viver? Que se resignam a uma vida onde vão deixando passar os dias à espera do último suspiro?
Pessoas que acordam todos os dias sem vontade de viver, considerando que não merecem ou não têm o direito a serem felizes. Pessoas que caminham sem rumo, sem objetivos, sem sonhos.
As suas pernas caminham, os seus braços movimentam-se, os seus órgãos vitais estão de perfeita saúde; mas os sonhos, a motivação, os ideais, a felicidade, o prazer, não existem.
Certamente cada um de nós já conheceu alguém que desistiu de ser feliz. Alguém que ficou na sua zona de conforto e se recusou a mudar ou a crescer, alguém que simplesmente respira um ar pesado, em vez de um ar leve, solto e tranquilo.
Todos nós já passámos por situações menos positivas, mais difíceis, momentos em que não vemos a luz ao fundo do túnel, mas a diferença entre aqueles que desistem de viver e aqueles que vão à luta é grande. Trata-se de uma diferença de confiança, de amor-próprio, de força, de valor e de estima.
Quando encontramos alguém neste estado é comum sentirmos compaixão. Sentimos porque todos nós já lá estivemos, sabemos o que dói, sabemos o que pensamos e sabemos que naqueles momentos não sentimos nada de positivo.
É muito fácil dizermos para a outra pessoa mudar, viver, gostar mais dela mesma, fazer coisas em que poderá sentir prazer. Mas não é fácil a outra pessoa sair desta situação sozinha.
Mudar implica ir para sítios (interiores ou exteriores) que não conhecemos e isso assusta. Mudar implica ter força para a transformação mas ninguém nos explica onde ir buscar essa força.
Por isso, quando nos cruzarmos com pessoas mortas em vida não as incentivaremos simplesmente a mudar, mas sim tentemos dar-lhes ferramentas para ajudar nessa mudança. E se não conseguirmos sozinhos, procuremos ajuda. Porque procurar ajuda não é um ato de fraqueza, mas sim um primeiro passo de coragem para enfrentar e aproveitar a vida.
Vera Silva Santos
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