Vera Silva Santos – Brincar – Um ato Caro

Folhear um catálogo de produtos ou fazer uma visita a uma loja de brinquedos podem levar os pais a uma espantosa constatação: brincar nunca foi tão caro.

É impressionante o preço médio dos produtos e como os mesmos apenas se mostram acessíveis à maioria da população graças ao artifício do pagamento parcelado. Brinquedos fabricados em produção em série, permitindo-lhe uma drástica redução dos custos, porém com valores literalmente exorbitantes e até injustificáveis.

O pior é que as crianças são bombardeadas diariamente, em especial através da televisão, por meio dos diversos canais infantis disponíveis, com campanhas publicitárias envolventes que despertam nos pequenos dois sentimentos quase incontroláveis: o desejo, consciente e ligado ao objeto, e o impulso, inconsciente e associado a uma representação mental.

Como resultado disso, os adultos sentem-se restringidos, de modo que o máximo que conseguem é impor limites, ensinando os seus filhos a fazerem escolhas, a partir do argumento de que não se pode ter tudo o que se deseja. Mas há outras lições e reflexões possíveis…

Longe vão os tempos do privilégio de viver a infância com a liberdade de enfrentar as ruas. Nessa altura, jogava-se futebol com os colegas, brincava-se ao berlinde ou às escondidas, mesmo após o pôr-do-sol. Eram tempos nos quais a violência urbana não espreitava a cada esquina, onde os veículos respeitavam limites de velocidade nas ruas residenciais e numa altura em que os vizinhos dialogavam uns com os outros.

Hoje vivemos encastelados em edifícios ou condomínios, porém isolados, compartilhando pouco com aqueles que moram ao nosso redor. As nossas agendas densas e o tempo cada vez mais curto, fazem-nos colocar o lazer em terceiro plano. Assim, os jovens vivem aficionados a equipamentos eletrónicos, hipnotizados pelos seus jogos, tablets, e smartphones, enquanto os mais novos são entregues a uma panóplia de brinquedos temáticos que proporcionam prazer a curto prazo. O brincar, tão essencial à formação psicossocial e motora, tornou-se sinónimo de consumismo.

Mais do que lembrar as brincadeiras do passado, precisamos de resgatar a simplicidade da natureza infantil. As crianças divertem-se com desenhos feitos com papel e lápis, com pequenas obras de arte feitas a partir de materiais recicláveis, com a leitura de histórias. Em última instância, tudo o que querem é companhia, carinho, afeto e atenção. Tudo isto não nos custa nada, sendo que efetivamente pode entreter, ensinar e edificar valores para toda a vida.

 

Vera Silva Santos

www.verasilvasantos.webnode.pt

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