Manuel António Rebelo: 24 ideias e mais algumas… para mudar Castanheira de Pera!

24 ideias e mais algumas…

para mudar Castanheira de Pera!

 – e a cooperação intermunicipal com os concelhos vizinhos de:

Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande,  Ansião e Alvaiázere, Penela, Miranda do Corvo,  Lousã, Góis  e Pampilhosa da Serra

2017, ano de eleições autárquicas. Este é um momento crucial para melhor reflectirmos o futuro de Castanheira de Pera – abordando os constrangimentos e limitações, e, sobretudo, os múltiplos recursos e potencialidades do concelho. Isto, na partilha independente de um conjunto variado de ideias, sugestões e propostas, num discurso que se pretende livre dos condicionalismos “politiqueiros” das disputas, divisões e cisões do “partidarismo” local. Castanheira de Pera só vencerá se todos os castanheirenses estiverem unidos num desígnio colectivo comum – o progresso da nossa terra – colocado acima de qualquer interesse particular ou disputa partidária!

  1. Os Açudes. Quando olhamos para o património edificado com história, logo os nossos olhos se viram para a Igreja matriz, a Capela velha de Pera e os Poços da Neve e a capela de Santo António… e raramente nos lembramos de olhar para a Ribeira de Pera. As centenárias fábricas de lanifícios, originárias do impulso industrial de meados do século XIX, são hoje, infortunadamente, ruínas na vã memória de um passado de progresso e prosperidade que desfaleceu e faliu – esqueletos fabris, descaracterizados, que jazem devolutos nas margens da ribeira. Mas um olhar mais penetrante, no emaranhado dos escombros e da densa vegetação, guiado pelo som da queda-d’água, leva-nos aos açudes. Para melhor compreendermos a relevância da preservação destes importantes monumentos locais, importa observar que a origem imemorial dos açudes antecede a expansão fabril e nos remete para o outro tempo da construção pré-industrial de moinhos, azenhas, lagares e, sobretudo, dos pisões. – E o que eram os pisões? Engenhos movidos por uma roda hidráulica, compostos por dois maços ou martelos que, num ritmo cadenciado, serviam para pisoar ou enfortir os panos manufacturados; e, é provável que no lugar dos pisões existissem também tanques para a tintura e lavagem dos tecidos e das lãs. Supõe-se que tenha sido a existência dos açudes e dos pisões na ribeira,  mais a tradição manufactureira das lãs nesta região serrana, a dar o impulso precursor à instalação fabril – antes, portanto, de José Antão ter fundado a primeira fábrica no sítio da Abelheira de Baixo, em 1860. Para mais, importa observar que as primeiras linhas de fiação instaladas nas novas fábricas construidas ao longo da Ribeira eram ainda movidas pela força motriz da roda hidráulica. Tal como sucedeu noutras localidades beirãs com tradições nos lanifícios, o acesso às águas da ribeiras foi determinante para o desenvolvimento fabril . Isto, não obstante a relevância que teve a máquina a vapor nos primórdios da revolução industrial – e, por cá, no seguimento do processo de industrialização tardia que caracterizou o nosso país, destacar-se-ia o carácter industrioso do visconde António Alves Bebiano que instalara nos Esconhais uma das maiores e mais modernas fábricas de lanifícios do país, dotada de luz eléctrica e vapores, ainda que para tal tivesse de mandar rasgar estradas e veredas pelas serranias da Lousã para fazer chegar à Castanheira a pesada maquinaria importada! Na Ribeira de Pera, os açudes sucedem-se a cada trecho, nas voltas do curso sinuoso das águas, tomando parte harmoniosa da paisagem, enriquecida com esplêndidas quedas-d’água. Do moinho ao lagar, da azenha e do pisão à fábrica, tiveram vida longas os açudes: – Mas, será que este belo e valioso património está devidamente classificado e preservado? Não. Infortunadamente, vimos nos últimos anos desaparecer três emblemáticos açudes, junto às antigas fábricas do Souto Escuro e da Foz – enquanto o dos Esconhais foi demolido para dar lugar à represa da Praia das Rocas. – E quantos mais correrão risco de derrocada? O estado geral é de completo abandono, não havendo lugar a obras de limpeza e manutenção (p. ex.reparação de fissuras, regulação do caudal, remoção de troncos, etc.), com a condicionante dos locais serem de difícil acesso, impondo-se ainda questões legais sobre licenciamento e direitos de propriedade e exploração –  acusando  desde logo  a falta de classificação deste património de interesse público…

No entanto, a grande oportunidade de revalorização dos açudes está no grande potencial subjacente ao 2. Reaproveitamento de recursos hídricos, nomeadamente na recuperação de infraestruturas para a produção de energia eléctrica. Para mais, o Decreto-Lei nº 49/2015, de 10 de abril, vai ao encontro desta realidade: “O aproveitamento de moinhos, azenhas ou outros engenhos hídricos já existentes, adaptando estas infraestruturas à produção de energia eléctrica, permitirá reabilitar um valioso património local disperso, ambientalmente integrado, potenciando ainda a dinamização de áreas rurais actualmente abandonadas”. Ora, o aproveitamento das águas da Ribeira de Pera foi evoluindo ao longo do tempo e os açudes acompanharam essa mudança – assim, do tempo da roda hidráulica das azenhas e dos pisões passou-se ao advento da electricidade e da instalação de turbinas eléctricas. Na primeira metade do séc.XX, antes do plano de electrificação do país e de construção das grandes barragens, as fábricas do concelho dispunham de centrais hidroeléctricas (mini-hídricas) e as ruas da vila tiveram iluminação pública em 1912, a partir da central instalada no açude dos moinhos do Pisão Novo, localizado entre as antigas fábricas da Retorta e da Abelheira. A central da Retorta, com duas turbinas instaladas, atingiu 96 kws de potencia – embora a seu tempo insuficientes para o crescente consumo energético da considerável expansão da fábrica. Actualmente, à excepção da mini-hídrica da Praia das Rocas, apenas o Safrujo dispõe de capacidade instalada para aproveitamento hidroeléctrico. A ideia aqui sugerida é, portanto, combinar a preservação dos açudes com a exploração dos recursos hídricos – a que acresce as potenciais mais valias da produção de energia renovável e concomitante venda para a rede pública de baixa tensão. A melhoria dos acessos aos açudes e a pontos estratégicos da ribeira poderia ainda ser beneficiada com a criação de um circuito pedestre, a ser enquadrado na promoção cultural e turísitica do concelho. Um bom exemplo do potencial reaproveitamento de antigos espaços industriais dos lanifícios para a produção de energia renováveis pode ser observado na Fábrica do Rio, em Manteigas, num projecto lançado em 2008 pela autarquia e que tem como principais parceiros a UBI (Universidade da Beira Interior) e a ENERRAREA (Agência Regional de Energia e Ambiente do Interior), unidos sob o mote «Serra da Estrela – Centro de Energia Viva de Montanha».

 

O grande sucesso da 3. Praia das Rocas  – merecedora do investimento contínuo na melhoria  e ampliação da infraestrutura – deve ser vista como uma “âncora” para a atracção e divulgação de outros projectos, equipamentos e serviços dedicados à oferta turística do concelho. Pois, é importante que o turista ou visitantes sinta vontade de permanecer por cá mais tempo no verão, ter outros motivos para voltar noutras estações do ano e adquirir o hábito de consumir os produtos da região. A venda cruzada – i.e. na compra ou divulgação de dado produto ou serviço (ex. bilhete da Praia das Rocas) oferecer um desconto ou promoção na aquisição de outro bem ou serviço (ex. feira, espectáculo ou restaurante) – poderá ser uma boa estratégia de marketing…

     – E que outros equipamentos, serviços ou produtos poderão ser desenvolvidos?

  • Pensemos no Turismo Gastronómico. É importante que a Prazilândia, a autarquia e os empresários de hotelaria e restauração do concelho se unam não apenas no reforço da oferta durante os meses de verão, mas também na organização de  feiras gastronómicas ao longo do ano – a que deverá responder o desafio de  relançamento de iguarias, produtos  e marcas que sirvam também como referência à promoção turística do concelho e da região (ex. cabrito assado, truta em molho escabeche, couves de caramoiço, mel, castanha, cogumelos, etc.). Na Lousã costuma ter lugar o Festival Gastronómico “Sabores de Outono”, enquadrado na Feira da Castanha e do Mel.
  • Os parques biológicos e as quintas pedagógicas têm despertado o interesse crescente do público nos últimos anos – os parques, mais vocacionados para a conservação do ambiente e a preservação de espécies ameaçadas, com especial destaque para a flora e fauna autóctones; as quintas, seguindo um propósito educacional, com vista à valorização do modo de vida no campo, desde a demonstração das várias actividades do cultivo da horta ao contacto com os animais domésticos. A ideia aqui sugerida é a criação de Parque Biológico da Ribeira de Pera / Quinta Pedagógica, que funcione tanto como um centro interpretativo da flora e fauna da Serra da Lousã (ex. divulgação de espécies como: javalis, veados, gamos, raposas, etc.), quanto na promoção de actividades educativas, ocupacionais e recreativas de uma quinta pedagógicas (ex. cursos: apicultura, hortícolas, jardinagem, etc.; programas ATL/Colónia de férias no campo; equitação e passeios de burro; outros). A localização preferencial junto à ribeira poderá ser um factor diferenciador na diversificação temática do Parque – ex. através da construção de um fluviário. No outro lado da serra, dois projectos sediados em Miranda do Corvo devem servir-nos de inspiração: o Parque Biológico da Quinta da Paiva e o novo espaço das Sete Quintas – este, situado nas margens do rio Dueça, na localidade de Retorta, partiu da recuperação de três moinhos e um lagar, reconvertidos num novo espaço de 6. Turismo Rural.

A criação de um núcleo museológico dedicado aos lanifícios – 7. Museu Têxtil dos Lanifícios – é de grande importância para a preservação da memória e identidade colectiva das gentes do concelho. O projecto inicial passaria pela recuperação da antiga fábrica da Várzea, uma vez este espaço poder exibir uma linha de produção com estruturas e maquinarias centenárias, na recriação do que poderia ser um “museu-vivo” de época. Contudo, a degradação continuada do edifício que culminou no desabamento da cobertura, poderão ter ditado, infortunadamente, a perda irremediável de tão valioso espólio. Neste sentido, uma proposta menos ambiciosa poderá passar pela colectânea de materiais diversos (máquinas; amostras de lãs, fios e tecidos; fotografias e recortes de imprensa; documentos vários; etc.), originais ou reproduzidos, comprados ou doados, a serem exibidos num novo espaço museológico com recurso a meios audiovisuais. Entre várias localizações alternativas, podemos citar: a) Parque do Safrujo – tem a vantagem de poder integrar no mesmo projecto, em associação com empresas locais em actividade, outras oficinas têxteis (tecelagem tradicional, confecção, meias e barretes); b) Esconhais de Baixo – destaca-se pelo valor arquitectónico dos imóveis e localização, perspectivando-se, neste caso, uma eventual parceira com a empresa Albano Antunes Morgado para a exploração polivalente das potencialidades do espaço; c) Moredos ou Retorta – a antiga fábrica dos Moredos, devoluta, vale pelo conjunto arquitectónico e a relativa proximidade à Praia das Rocas, já a Retorta, tem a vantagem de ser propriedade do município, embora os edifícios mais antigos, devolutos, estejam descaracterizados. No reaproveitamento dos pavilhões da antiga fábrica da Retorta poderemos ainda pensar na instalação de um ninho ou 8. Incubadora de micro e pequenas empresas.

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