Manuel António Rebelo: 24 ideias e mais algumas… para mudar Castanheira de Pera! Parte 6

24 ideias e mais algumas…

para mudar Castanheira de Pera!

Parte 6

 

– e a cooperação intermunicipal com os concelhos vizinhos de:

Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande,  Ansião e Alvaiázere,

Penela, Miranda do Corvo,  Lousã, Góis  e Pampilhosa da Serra

 

 

2017, ano de eleições autárquicas. Este é um momento crucial para melhor reflectirmos o futuro de Castanheira de Pera – abordando os constrangimentos e limitações, e, sobretudo, os múltiplos recursos e potencialidades do concelho. Isto, na partilha independente de um conjunto variado de ideias, sugestões e propostas, num discurso que se pretende livre dos condicionalismos “politiqueiros” das disputas, divisões e cisões do “partidarismo” local. Castanheira de Pera só vencerá se todos os castanheirenses estiverem unidos num desígnio colectivo comum – o progresso da nossa terra – colocado acima de qualquer interesse particular ou disputa partidária!

 

Logo, devemos colocar a questão pertinente de saber 22. Quais as alternativas e melhores opções de integração regional se nos colocam. Para tal, podemos pensar  na realização de um referendo local, potencialmente alargado aos 5 concelhos. Ponderemos as seguintes hipóteses:

  1. a) Permanecer na Região de Leiria – significa nada de inovador fazer ou intentar;
  2. b) Convergir em direcção a Tomar e ao Médio-Tejo. Nesta hipótese, os limites territoriais desta sub-região do Centro seriam estendidos até aos sopés da Serra da Lousã e da Serra do Sicó – e, se bem observarmos, esta opção tem sustenção geográfica, se considerarmos que as ribeiras de Alge, Pera e Mega são afluentes da bacia hidrográfica do Zêzere, tal como o rio Nabão, que nasce em Ansião e atravessa Tomar. Daqui poderíamos perspectivar dois eixos de integração sub-regional: a) a nordeste, seguindo o eixo rodoviário do IC8, na ligação dos concelhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande aos concelhos da Sertã e Vila de Rei – pressupondo que a relativa centralidade geográfica da Sertã pudesse potenciar a fixação de novas competências e serviços públicos e administrativos sub-regionais nesta vila (Castanheira de Pera – Sertã: 38kms, 32min.); b) a noroeste, seguindo o eixo IC3/A13, potenciando a ligação dos concelhos de Ansião e Alvaiázere a Ferreira do Zêzere e a Tomar. A principal vantagem da extensão do Médio-Tejo a norte seria a consolidação territorial deste sub-região na região Centro (refira-se que o Médio-Tejo, formado pelos concelhos do norte do distrito de Santarém, integrou originalmente a região plano de Lisboa e Vale do Tejo), além da própria valorização da notável cidade de Tomar. No entanto, esta opção apresenta fragilidades, que resultam de: i) dúvidas sobre o enquadramento regional a atribuir à Sertã, tendo em conta a inviabilidade do Pinhal Interior Sul, mais o possível conflito de interesses com as sedes de Figueiró dos Vinhos e Abrantes; ii) Castanheira de Pera manteria a condição de concelho periférico; iii) fraca atractividade actual da cidade de Tomar, comparativamente à área de influência de outras cidades sobre o conjunto destes concelhos, com destaque para Pombal (comércio, emprego, transporte ferroviário), Leiria (emprego, serviços) e, sobretudo, Coimbra (comércio, serviços, transportes, emprego, cultura, lazer, etc).
  3. c) Integrar a Região de Coimbra. Neste caso, esta sub-região avançaria abaixo das serranias da Lousã e da Pampilhosa da Serra, ao longo da fronteira natural do Zêzere, estendendo os limites a sul que confinam com o Médio-Tejo. A principal vantagem deste desenho é deixarmos de ver a Serra da Lousã como uma barreira natural na demarcação do viso entre distritos e sub-regiões, antes como um espaço de integração regional.

     Acima,  referimos algumas actividades que poderiam beneficiar de uma cooperação mais estreita entre os municípios de um e outro lado da Serra. Cabe agora destacar 23. A exploração conjunta do enorme potencial turístico da Serra da Lousã. As paisagem deste lado ensolarado da Serra, feita de uma mescla primaveril de tons rosáceos e violeta das urzes, mais o amarelo da flor da carqueja, a sobressair nas fragas da Ribeira das Quelhas, é, simultaneamente, tão igual e diferente à paisagem cerrada, verde e húmida dos contrafortes das serranias que avançam no vale profundo e desembocam no Castelo de Arouce e na Ermida da Senhora de Piedade.

A Associação de Desenvolvimento do Ceira e DueçaDueceira, interpreta do seguinte modo a “chave do território” da área de influência, composta pelos concelho da Lousã, Miranda do Corvo e Vila Nova de Poiares (Penela – a freguesia do Espinhal é enquadrada nas faldas da Serra da Lousã, embora o concelho faça parte das Terras do Sicó): “concelhos de Montanha; recursos paisagísticos; freguesias predominantemente Rurais (conceito lato); Terras de Chanfana, Cabrito, Castanhas e Mel [urze]; floresta – território com elevada percentagem de ocupação florestal; etc.”

E destaca so seguintes factores de integração territorial:

  • Factores de atracção culturais /patrimoniais: “a encosta norte da Serra da Lousã; Aldeias de Xisto e património histórico de relevância […]”.
  • Factores ambientais/turísticos: “os GeoSítios identificados de elevado valor ambiental que formam a bacia da Lousã, do Altar do Trevim/Candosa ao Cabril/Gondramaz/Espinhal; a zona classificada da Rede Natura 2000; o Parque Biológico da Serra da Lousã; os rios Alva, Ceira, Dueça e Mondego; as praias fluviais; a fauna (corços e veados); os percursos pedestres; e a caçadas fotográficas.
  • Factores gastronómicos: “chanfana, negalhos, cabrito, migas serranas, mel, doçaria diversa, licor beirão, vinho de lamas”.

Ora, se bem observarmos, não obstante algumas peculiaridades típicas de dado lugar, este breve retrato dos recursos serranos são potencialmente extensível às encosta voltadas a sul e concelhos limítrofes – repare, do monte do Altar do Trevim avista-se, a escassas centenas de metros, a encosta do Santo António da Neve e o planalto do aeródromo do Coentral; o sítio da Serra da Lousã, classificado na Rede Natura 2000 tem uma área de 15158ha, dos quais 20% (ou 3026ha) localizam-se em Castanheira de Pera [Góis: 4540ha, 30%; Lousã:25%; Figueiró dos Vinhos:16%; Miranda do Corvo:9%], sendo o nosso concelho aquele que dispõe, em termos percentuais, da maior área classificada, cerca de 45% do território (Lousã:27%; Góis:17%; Fig. Vinhos:14% e M. Corvo:11%); as encostas voltadas a sul, formam as bacias das ribeiras de Alge, Pera e Mega, afluentes do Zêzere, também com belas praias e represas fluviais; etc. Como vemos, há uma ligação natural ao outro lado da Serra que deve ser explorado…

Por outro lado, o 24. Roteiro das Aldeias do Xisto da Serra da Lousã, leva-nos do Casal Novo, Talasnal, Chiqueiro e Candal, no concelho da Lousã, até Gondramaz (Miranda do Corvo), Ferraria de São João (Penela) e Casal de Simão (Figueiró dos Vinhos), Aigra Nova, Aigra Velha, Comareira e Pena (Góis), e, seguindo pela ribeira de Pera em direcção às aldeias de xisto do Zêzere, alcançamos o Mosteiro (Pedrógão Grande). Em Castanheira de Pera não há aldeias classificadas nesta categoria, no entanto, tem monumentos e pontos de interesse, com destaque para os Poços da Neve – isto, além de que o Coentral, Pisões e Camelo são também típicas aldeias serranas, numa lista alargada a Campelo (Figueiró dos Vinhos), Alvares (Góis) e outras aldeias das freguesias e concelhos vizinhos. Bem observado, o nosso concelho ocupa uma posição de relativa centralidade neste território, pelo que a promoção das Aldeias do Xisto poderá beneficiar da melhoria dos acessos rodoviários a partir da Serra, nomeadamente nas ligações 24.1 Trevim / Santo António da Neve a Góis, passando pela Aigra Velha e Comareira, e, entre 24.2 Castanheira de Pera e Miranda do Corvo, passando por Campelo, a partir da beneficiação da EN237 e da requalificação do traçado entre Traquinai/Louçaínha (Espinhal) e Vila Nova (M639).  Daqui, podemos também pensar na 24.3 promoção turística da EN-236 que é, sem dúvida, uma das mais belas estrada de montanha do país – e, a partir dela, projectar vários roteiros traçados em complementaridade com outras estradas nacionais (N17-N236: Coimbra-Ceira-Lousã; N237: Cast.Pera-Campelo-Espinhal/Miranda; N2: Góis-N236/Ped.Grande), municipais (ex. M555: Lousã, rota Aldeias do Xisto; CM1148: Coentral/Santo António da Neve; CM1151: variante do Ameal) e outras (N236-Trevim e estradas de acesso a aldeias serranas, parques eólicos, ecoparques e miradouros).

Uma forma de promover este vasto território interior das serranias da Região de Coimbra passa também pela organização e maior divulgação internacional de 24.4 desportos motorizados, desde as provas de motociclismo  (ex. Sprint Enduro Praia das Rocas) aos campeonatos de Ralis (ex. Rali da Serra da Lousã – e, imaginemos, no lançamento de um circuito alargado, o que poderia ser o lançamento do Rali das Aldeias do Xisto, atravessando as serranias da Lousã e do Açor, até Pampilhosa da Serra e Arganil, com passagem por Alge, Pera e Médio-Zêzere, junto à albufeira da Barragem do Cabril, em Pedrógão Grande).

Por sua vez, o potencial interesse de também Ansião e Alvaiázere convergirem para a Região de Coimbra – ao invés de permanecerem na Região de Leiria ou divergirem para o Médio-Tejo – depende da relevância socioeconómica e do posicionamento geoestratégico a atribuir às Terras do Sicó, que ocupam actualmente uma área geográfica repartida entre os distritos de Coimbra (Penela, Condeixa-a-Nova e Soure) e Leiria (Pombal, Ansião e Alvaiázere). Refira-se que a maior extensão de carvalho cerquinho da Europa está localizada nos concelhos de Ansião (23%) e Alvaiázere (24%) e classificada no sítio Sicó/Alvaiázere da Rede Natura 2000 (numa área que se prolonga pela outra metade aos concelhos vizinhos de Pombal (17%), Ferreira do Zêzere (14%), Tomar (12%), Ourém (6%), Soure (4%) e Penela) – a protecção desta importante floresta autóctone tem motivado os autarcas dois concelhos a unirem esforços para a criação intermunicipal do Parque Ecológico Gramatinha/Ariques. Mais a norte, deixando para trás Santiago da Guarda (Ansião) e prosseguindo em direcção a Condeixa-a-Nova, chegamos ao Rabaçal (Penela) – que nos convida a visitar o núcleo arqueológico da villa romana, localizada a curta distância de Conínmbriga. Daqui, dois caminhos levam-nos a explorar, os quase-inexplorados, canhões e contrafortes, algares e grutas da Serra do Sicó – um, seguindo para Degracias (Soure), na estrada que leva à freguesia da Redinha (Pombal), e a observar o Canhão do Vale do Poio; o outro, avançando pela Serra de Janeanes e Furadouro (Condeixa), que nos convida a visitar a Buracas de Casmilo. Por curiosidade, o conjunto Conímbriga/Sicó/Alvaiázere chegou a ser proposto, em 2012, à classificação de Parque Natural, dada a sua relevância ambiental e paisagística, histórica, cultural e económica – isto, embora a descaracterização das encostas a poente, pela actividade das pedreiras, seja vista, simultâneamente, como um entrave à classificação e uma oportunidade de garantir a sua preservação. No conjunto, o melhor aproveitamento do enorme potencial turístico e económico desta região, deve levar os autarcas da associação dos municípios das Terras do Sicó a ponderar as vantagens de convergirem, num processo de integração sub-regional mais vasto, numa mesma Comunidade Intermunicipal mais unida, forte e coesa – a Região de Coimbra!

 

No mapeamento da (CIM) Região de Coimbra, potencialmente alargada a 24 municípios (19 actuais [460.022 hab.] + 5 [33.690 hab.]  = 24 [493.712], maior CIM do continente; A.M. Lisboa:18, A.M. Porto:17 e Douro:19) poderemos então delimitar 4 áreas de associação municipal, embora não mutuamente exclusivas:

  1. i) Baixo Mondego – formada pelo conjunto de municípios litorais, a poente de Coimbra, dos campos de Montemor-o-Velho e Soure às praias da Figueira da Foz, Tocha (Cantanhede) e Mira, mais os concelhos do sul da importante região vínicola demarcada da Bairrada, Cantanhede e Mealhada;
  2. ii) Mondego-Alva – reunindo os concelhos a norte/nodeste de Coimbra, do vale do Mondego e do rio Alva, até aos limites fronteiros das sub-regiões de Viseu/Dão-Lafões e Beiras e Serra da Estrela: V.N. Poiares, Penacova, Mortágua, Tábua, Oliveira do Hospital e Arganil;

iii) Serranias da Lousã e Açor – composta pelos concelhos serranos no território compreendido entre o Mondego (Dueça e Ceira) e o Zêzere: Penela, Miranda do Corvo, Lousã, Góis, V.N. Poiares, Arganil, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos;

  1. iv) Sicó/Alvaiázere: agregando os concelhos das Terras do Sicó: Alvaiázere, Ansião, Penela, Condeixa-a-Nova e Soure.

 

Afinal, Coimbra não é tão somente a mais importante cidade da Comunidade Intermunicipal que lhe empresta o nome, CIM da Região de Coimbra, ou a capital regional do Centro… Mais do que isso, por tradição e direito histórico, Coimbra é a capital de jure [da fundação] de Portugal!

Neste sentido, promover a convergência em direcção à Região de Coimbra é, simultaneamente, uma proposta ponderada de desenvolvimento local autárquico, um novo desafio de integração intermunicipal e a afirmação de um projecto regionalista que tenha por objectivo melhor promover a coesão territorial do país – e, por acréscimo, constituir um modelo de desenvolvimento ao Centro, alternativo ao centralismo macrocéfalo de Lisboa e à expansão radial bipolar das grandes áreas de influência metropolitana de Lisboa e do Porto.

 

 

     Considerações finais

Algumas destas «24 ideias, para mudar Casrtanheira de Pera» poderão fazer parte do manifesto eleitoral das diferentes listas concorrentes às próximas eleições autárquicas… Outras, pela complexidade ou nível de investimento, certamente precisarão de uma análise mais cuidada. Não obstante, o mais importante é que estas ideias possam contribuir para uma reflexão mais abrangente dos constrangimentos e potencialidades do concelho, que tenha por objectivo garantir um futuro melhor para Castanheira de Pera. Para tal, a nossa abordagem deve  considerar 3 níveis de interpretação:

  1. a) interna – na identificação dos recursos endógenos do concelho: a ribeira, a serra e a floresta;
  2. b) externa – na adpatação à realidade local de ideias, iniciativas e projectos bem sucedidos noutros municípios (benchmarking); no reforço da imagem de Castanheira de Pera no exterior, tendo como principal referência a projecção que tem sido feita da Praia da Rocas na última década; ou, ainda, na promoção de uma participação mais efectiva dos castanheirenses da diáspora, e seus descendentes, no desenvolvimento do concelho;
  3. c) intermunicipalidade – reforçar os laços de cooperação com os muncípios vizinhos, com natural destaque para Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande. Também deve ser repensada a participação de Castanheira de Pera, e dos concelhos vizinhos, na Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria – sendo aqui sugerida a convergência geoestratégica alternativa junto dos concelhos do Médio-Tejo, com destaque para a Sertã, Tomar e Vila de Rei, ou, preferencialmente, em direcção à Região de Coimbra, nomeadamente de Penela, Miranda do Corvo, Lousã, Góis e Pampilhosa da Serra.

 

Bem haja. Pense nisto…

 

Castanheira de Pera – Troviscal, 2 de abril de 2017

 

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