Eles deram-te uma flor
Um sorriso. Uma canção
Mas negaram-te justiça
E tu não disseste não.
Cantaram loas. Escreveram
Leis da tua protecção,
E prometeram coisas lindas
que na verdade não dão!
E as frases qu’eles inventam,
No fundo tudo ilusão,
Vão-te alimentando o sonho
E tu não dizes que não!
Querem-te fada do lar
(E da mulher, condição,)
É que no fundo, eles temem
Uma tua intervenção!
Vai lavando, vai cozendo,
Vai p’ra cama pois então,
Rapa, tira, põe e deixa
Mas lá pensar é que não!
Mas olha bem, camarada
Atenta bem na lição
Nada se ganha sem luta
Na luta contr’a opressão.
Por isso, hoje, mulher
Olharás teu coração
E hás-de, encontrar a força
Tomada a tua razão
E aí onde começa
Toda a tua doacção
Que não esmagando a ternura
Esmagarás a escravidão!
É hora de dizer basta,
É hora de dizer não!
Mas nessa luta, mulher,
Não darás procuração!
Eles deram-te uma flor
Um sorriso, uma canção.
Mas negaram-te justiça
E agora tu dizes: NÃO!
(Kalidás Barreto)