Kalidás Barreto – Crónicas da Serra da Lousã

Este texto foi escrito há mais de 43 anos, e publicado em 10 de Abril de 1974 na minha habitual coluna no jornal O Castanheirense, “Conta Gotas”. Quase meio século volvido, eis que não perdeu (infelizmente) a actualidade. Excepto que na altura o concelho tinha 60 anos e agora mais de 100:

 

Museu da Indústria

Por muito que o homem ande ernbrenhado nos seus problemas diários (que chegam e sobejam para ocupar o tempo e criar cabelos brancos), por muito que moureje na incerteza do amanhã, a verdade é que sabe sempre bem recordar o passado; e não só por prazer.

É que nenhuma sociedade é fruto de urna só época; toda ela é impregnada da experiência do passado, dos seus defeitos e das suas virtudes. É pois na análise fria e consciente do dia de ontem que se encontra a razão do dia de hoje e a força para se prosseguir no amanhã.

A história do passado da indústria de lanifícios de Castanheira de Pêra está por fazer. Para além de recordações dispersas e de factos preciosos do conhecimento geral, nada há cuidadosamente catalogado que permita às actuais gerações uma ideia exacta do porquê da tradição dos lanifícios na nossa terra, da evolução dos acontecimentos, da passagem artesanal para a industrializada. E todavia as coisas não apareceram por acaso, a evolução não se fez por acidente. O homem e a sua indústria, em Castanheira. Eis uma história saborosa que é preciso contar-se.

Melhor porém que um relato cronológico, necessário, sem dúvida, um museu bem organizado contaria às
pessoas a história duma indústria que fez nascer um concelho há sessenta anos.

Máquinas, peças, livros, registos, fotografias; quem não terá dessas coisas perdidas entre velharias?

Um museu da indústria não é uma sugestão feita pelo mero prazer de alvitrar. É uma ideia que se poderá
corporizar com a boa vontade de todos, com a colaboração paciente de alguns, com o trabalho de uns tantos, com a protecção das entidades.

Na convicção que tem interesse, aqui fica a ideia lançada; a ideia e o voto de trabalharmos por ela. Quem
nos quer ajudar?

Kalidás Barreto

 

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