A devastação dos incêndios o ataque de algumas doenças podem ser apenas um prenúncio dos perigos que ameaçam a floresta. Mas parece que o que mais compromete a sustentabilidade da floresta é o abandono conjugado com a falta de gestão dos territórios.
Depois de mais de 30 anos de investimento em novos espaços florestais, depois de uma produção massiva de legislação como a lei de bases, leis e decretos-lei, a floresta está, como nunca antes esteve, mal gerida, pior, está humilhantemente abandonada.
É esse o estado, o de abandono, que mais ameaça a sustentabilidade da floresta e a sua cadeia económica que para a nossa economia vale cerca de 2.3% do PIB (produto interno bruto) e cerca de 11,5% das nossas exportações.
Também esta ausência de gestão sustentável, faz aumentar exponencialmente o risco de incêndios e permite mais facilmente a instalação e propagação de doenças e pragas junto da matéria florestal.
Se formos capazes de ter uma silvicultura mais eficiente, uma grande parte dos problemas de sustentabilidade com os quais nos confrontamos, seriam minimizados. Temos por exemplo, por um bom exemplo, o caso dos eucaliptais geridos pelas indústrias de papel e de celulose. Estas indústrias administram cerca de 200 mil hectares e é uma área que não arde, ou quando arde, dá-se o fenómeno do fogo de copo, isto é, arde apenas na copa dos eucaliptos. Por outras palavras, são capazes de resistir aos incêndios e mais facilmente evitam os danos junto ao solo, onde a arvore vale mais.
Este problema de gestão está no centro dos debates sobre a sustentabilidade da floresta há já muitos anos.
Especialistas na matéria, apontam a estrutura fundiária como o maior dos problemas que o sector enfrenta.
Argumentam que os 3,15 milhões de hectares ocupados pelos espaços florestais (que consiste em cerca de 37% de todo o território português), cerca de 98,5% estão nas mãos de privados. Nesta área, a maioria pertence a proprietários florestais individuais, Pequenos e médios proprietários. Porventura, serão uns 400 mil proprietários da nossa floresta e cerca de 1/4 desses proprietários (de acordo com informações recolhidas junto do ICNF- Instituto da Conservação e da Floresta) não habita perto dessas propriedades, aliás, em grande parte, são propriedades que provieram de heranças e que, até por desconhecimento da sua localização, se deixaram ao abandono.
Infelizmente, não há um cadastro capaz de dar uma visão de conjunto desta enorme área do território nacional.
Segundo alguns analistas, sem considerar qualquer dado oficial, admitese que 20% da superfície do nosso país não tem um proprietário identificado ou identificável. O próprio Estado, as próprias autarquias, não sabem ao certo do que são proprietários, nem as áreas, nem as localizações.
Desta forma é quase impossível realizar a limpeza das matas, efectuar os desbastes para fazer revigorar as árvores, proceder ao combate às pragas ou criaraceiros, estradas de acesso ou linhas de água que facilitem o estanque do avanço dos incêndios florestais. A zona do pinhal foi das principais vítimas deste abandono. Se não vejamos.
Em 1963 o pinhal dominava a floresta nacional, ocupando cerca de 1,2 milhões de hectares de área. Mas em 1995 essa área já estava reduzida para 978 mil hectares. No ano de 2010, a área de pinhal ocupava somente cerca de 714 mil hectares.
Os incêndios devastaram grandes zonas de pinheiro (bravo) e a propagação da doença dos pinheiros, o nemátodo, contribuiu sem dúvida para a redução desta espécie. Menos desastroso foi o desempenho do eucalipto. Há cerca de 50 anos, a área ocupada pelo eucalipto fixava-se nos 50 mil hectares, mas em 1995, o eucalipto já era a segunda espécie florestal do país, com uma área ocupada de 717 mil hectares. O eucalipto subiu assim à categoria de espécie florestal dominante, ocupando uma área de 811 mil hectares em 2010.
Mas porque o eucalipto? Sobretudo por causa do factor económico.
Este crescimento explicase em primeira instância pelo lucro potencial de cada uma destas espécies. A dinâmica da ocupação florestal foi sempre determinada pela rentabilidade. O que a determina é o interesse económico e não as políticas do Estado. Mesmo obtendo apoios inferiores aos concedidos pelo Estado e pela União Europeia às outras espécies, mesmo tendo um regime regulador menos favorável, o eucalipto expandiu-se porque é a espécie que melhor remunera os seus proprietários. Enquanto uma plantação de pinho começa a dar resultados palpáveis ao fim de 30 ou 35 anos, um hectare de eucaliptos pode produzir num ano madeira capaz de render quatro mil euros.
Mas mesmo assim dá-se um fenómeno curioso. Vejamos: Se houvesse mais 300 mil hectares de eucaliptos bem administrados, o nosso país seria capaz de produzir todas a matéria-prima que a indústria de papel e celulose necessita.
Repare o leitor que a indústria da pasta e do papel contribui para a economia nacional, em exportações acima dos 2000 milhões de euros (dados referentes ao ano de 2012), mas apesar deste imenso eucaliptal que desponta no nosso território, aquela industria teve de importar, para cada ano de produção, cerca de 20% das suas necessidades de matéria lenhosa para transformar.
É por isso que no jogo da oferta e da procura, a procura do eucalipto mantém-se alta. É por isso que é um bom negócio.