Entrevista com Sérgio Godinho, da organização TEDx Figueiró dos Vinhos

 

Sérgio F. Godinho: “Vai acontecer algo em Figueiró e é algo enorme”

Certo dia, um jovem estudante de psicologia perdeu-se em pensamentos, enquanto esperava pela professora para uma reunião. Pensava nos outros jovens da terra que conhecia e pensava nas coisas que esses conterrâneos eram capazes de fazer. Quase sem saber como, foi assim que deu início ao ciclo de conferências Futuro Y. O objetivo era dar voz a talentos que não tinham um palco. Depois, alargou o pensamento ao país e convidou gente de fora para ir à sua terra apresentar “percursos interessantes”. Quase um ano depois destes primeiros pensamentos, sonhou em grande: “E se o maior evento do mundo de partilha de ideias acontecesse na vila?”

O jovem é Sérgio F. Godinho, a vila é Figueiró dos Vinhos e o evento é uma TEDx, que acontece dia 23 de setembro na Casa da Cultura. Os primeiros oradores já estão confirmados, os bilhetes estão à venda e o casting para selecionar um palestrante está aberto.

Esta conversa é sobre o caminho que o autor da ideia percorreu até ter a certeza que podia ajudar outras pessoas a partilhar ideias.

Lembras-te do primeiro contacto que tiveste com o movimento TED Talks?

Não tenho memória do primeiro contacto, mas lembro-mo muito bem de, pelo menos desde o primeiro ano em que estava na universidade, ver vídeos no YouTube de TED Talks e TEDx. E eram sempre muito interessantes.

E entre esses vídeos, há alguma TED Talk que te tenha marcado particularmente?

Sim, mas não vou dizer porque vai ser apresentada no TEDxFigueiroDosVinhos. [Risos.] Nós vamos apresentar três vídeos e esses três vídeos são, para mim, dos mais importantes a que assisti.

Nesses primeiros contactos com os vídeos TED, qual foi a impressão que a estrutura te deixou?

O slogan é autoexplicativo: “ideias que merecem ser partilhadas”. Percebo o mote de se querer dar um palco às ideias. Normalmente, as ideias estão fechadas em fábricas, em laboratórios, nos cubículos dos artistas. Mas, numa TED, as ideias têm um palco e esse palco é o espaço onde se congregam ideias de diferentes meios e muito diferentes. Mais: um evento TED coloca as pessoas em contacto com essas ideias, faz com que as ouçam, que tenham acesso a elas. E nos coffee-breaks podem conversar com os autores das ideias, perceber como eles as desenvolveram, qual é o próximo passo…

E o que é que te fez acreditar que era possível uma TEDx acontecer em Figueiró dos Vinhos? Afinal de contas, é a primeira vila do país a receber um evento deste género…

Tudo isto começou com o Futuro Y. E como é que começou o Futuro Y? Eu estava à espera da minha professora para uma reunião. Enquanto esperava, pensei: “E se fizéssemos uma conferência em Figueiró para partilhar o percurso dos jovens? Em Figueiró há muitos jovens com talento que não têm um palco. Ia gostar de os ver todos juntos a falar sobre o que fazem.” E criou-se o primeiro Futuro Y. No segundo Futuro Y, olhamos também para percursos de jovens que tinham sido interessantes a nível nacional. Na viragem para a TEDx, não importam os percursos, mas sim as ideias. E vai ser muito interessante porque vamos combinar pessoas daqui de Figueiró com nomes nacionais. Para mim, vai dar-me um orgulho especial saber que as pessoas de Figueiró vão ter a possibilidade de debater, contactar e falar com outras pessoas de expressão nacional, a que normalmente não têm facilidade de acesso, pelas razões geográficas óbvias. É aqui que entra o objetivo do TEDx: criar uma corrente de mudança de ar, de acabar como o comodismo de se pensar que os habitantes da região Centro vão todos para a cidade e que aqui nada acontece. Vai acontecer algo em Figueiró e é algo enorme: um dos maiores eventos do mundo de partilha de ideias.

O processo de candidatura para se obter uma licença TED envolve uma série de etapas. Foi mais difícil ter a aprovação por se tratar de uma vila?

Eu não teria arriscado se achasse que fosse impossível. Mas também não ia muito confiante à partida. Ouves falar em TEDx e ouves falar em quê? TEDx Londres, TEDx Nova Iorque, TEDx Berlim, TEDx Paris. Em Portugal, ouves falar em TEDx Porto e TEDx Lisboa enquanto marcos. E Figueiró dos Vinhos fica um pouco deslocado no meio disto. Mas, por outro lado, também sabia que isso poderia ser o nosso trunfo: não ia ser mais uma cidade a receber uma TEDx, íamos ser algo diferente até para a própria estrutura TED. Em Portugal, somos a primeira vila TEDx. No mundo, não sei porque não confirmei. [Risos.] Mas em Portugal somos a primeira vila. E mais: vamos ter um TEDx antes de qualquer cidade abaixo de Évora!

Esse foi o principal argumento que usaste para os convencer que era possível uma TEDx acontecer numa vila do Interior?

Não. O facto de ser uma vila foi bom. Expliquei-lhes que, sendo uma vila, o evento ficaria menos abandonado do que numa cidade. Nas cidades, sim, há mais gente e as estruturas são maiores, mas há um pensamento de “cada um por si”. Aqui, o pensamento é que “há uma coisa muito boa a acontecer na vila”. Sabia, à partida que poderíamos ter muitos apoios, que as pessoas se virariam para nós porque querem que a vila cresça. Portanto, sim: o facto de ser uma vila foi um bom ponto. Mas outro ponto muito importante está relacionado com as ideias que quero trazer até aqui. Creio que foram as ideias que conquistaram a responsável da estrutura.

Que ideias são essas?

Vão ao TEDx para descobrir. [Risos.]

O que é que precisaste de fazer para que o pedido fosse aprovado?

Houve quatro fases. Primeiro, fui ao site da TED ver como é que tudo se processava e li as regras, para não me ficar pela ideia básica de que as TEDx são conferências. Depois, estive a refletir sobre se seria viável avançar com a candidatura, se eu teria capacidade e decidi que sim. Recebi uma resposta afirmativa à candidatura online e tive que fazer um teste sobre as regras. Depois disso, houve uma entrevista por Skype, com a responsável da TED, para debater o resultado do meu questionário, para discutir as minhas ideias para o evento. Falei-lhe sobre as pessoas que tinha em mente, mas entendi que não interessava quem viria, mas sim sobre o que se iria falar.

Neste momento, em que fase está a organização do evento?

Nesta fase, temos as inscrições para o casting abertas até 15 de agosto. O casting realiza-se no dia 23 de agosto na Casa da Cultura. Das candidaturas que vamos receber, vamos escolher um máximo de cinco para serem apresentadas na Casa da Cultura e, no casting, uma será selecionada para ir ao TEDxFigueiroDosVinhos.

Em relação aos oradores, o que é que já podes revelar?

Neste momento, temos garantidos dois oradores locais: o investigador de história Miguel Portela e o professor Paulo Sá, que nos vai falar sobre filosofia. A nível nacional, temos confirmado o professor João Ramalho-Santos, que é um génio da genética e que nos vai falar sobre o futuro do ser humano: será que no futuro posso encomendar um bebé? Será que no futuro posso dizer que quero que o meu filho seja loiro e tenha olhos azuis e o médico consegue dar-mo como eu quero? Ou será que a genética vai estar mais virada para a prevenção de doenças? Vai ser superinteressante ouvir a conferência dele.

E sobre a estrutura do evento? O que é que está pensado?

Vamos começar o check-in às 14h00. É muito importante estar presente no check-in a essa hora porque o evento inicia às 14h20, a porta fecha e mais ninguém pode entrar. O início do evento, que dura 10 minutos, é pré-programado pela TED e projeta-se um vídeo obrigatório. Depois, eu faço a introdução ao TEDxFigueiroDosVinhos e passo para a apresentadora, que segue com o evento. O evento vai ter três partes, sendo que cada parte terá três comunicações ao vivo e um vídeo, seguidos de um coffee-break.

Colaboraste com a organização da TEDx Guimarães. Que coisas aprendeste com essa equipa que te vão ser úteis na TEDxFigueiroDosVinhos?

A participação no TEDx Guimarães foi muito importante. Eu não ajudei a montar a organização: fui voluntário. Participei nas reuniões uma semana antes do evento, no dia anterior ao evento e no do evento. Isto deu-me noção sobre o que é estar dentro da organização de uma TEDx estando fora. Estava numa posição sem grande responsabilidade, em que podia observar como eles se organizavam. E isso deu-me ideias para o TEDxFigueiroDosVinhos, como no que diz respeito à localização dos recursos humanos. Conheci também imensa gente que gosta das TEDx. Vamos inclusivamente ter cá um voluntário que conheci em Guimarães: o João Marques Laranjo, para quem o TEDxFigueiróDosVinhos vai ser a 21ª TEDx em participa, entre organização, assistência e voluntariado. Ele vem a Figueiró de propósito, com os custos suportados por ele próprio, só para ser voluntário no evento!

Que trabalho de bastidores passa ao lado de quem assiste a uma TEDx? Isto é, o que é que mais te tem impressionado enquanto organizador?

A experiência para a pessoa que vem ver a TEDx tem que ser uma experiência limpa e organizada… uma espécie de experiência purificada. Ou seja, a pessoa chega, vai ao check-in, recebe os brindes, senta-se. Mas, para que tudo corra bem, há um trabalho enorme por trás e que tem que ser invisível a quem assiste. Se quem assiste notar toda a dinâmica que está por trás, algo está mal.

Qual é o teu maior desejo para esta TEDx? Aquela coisa que pensas: ‘Se isto acontecer, fiz bem o meu trabalho’…

Que haja uma segunda.

Há quem diga que as TEDx não passam de discussão, de debate de ideias. Tu, pelo contrário, acreditas que são úteis, que inspiram pessoas. Porquê?

Temos que perceber que há tantos mundos como pessoas. O mundo para mim é completamente diferente daquilo que é para ti. E o mundo para ti é diferente do daquela pessoa que vai ali a passar… Eu acredito que uma ideia pode mudar o mundo, no sentido em que o mundo é o que se passa numa pessoa. Ou seja, tudo o que nós fazemos, todos os comportamentos são guiados por ideias, por convicções. E este evento é uma plataforma de transporte de ideias, de discussão de ideias, de partilha de ideias. E isso pode alterar a tua realidade, pode alterar a forma como vês o mundo. E, se alterar a forma como vês o mundo, vai alterar a forma como ages no mundo. E, se alterar a forma como ages no mundo, vai alterar o mundo dos outros. O mundo começou pela partilha de ideias. A roda era só uma ideia. O futebol começou por ser uma ideia. A política era só uma ideia. A filosofia são só ideias. E a filosofia mudou o mundo!

Entrevista de Florbela Caetano

 

 

 

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