António Pedro Carreira – Pluridisciplinaridades Temáticas

Já tenho por diversas vezes abordado o tema da decadência dos valores morais e da ética, a decadência de uma conduta correcta para com os outros, o respeito e a dignidade nas acções, a utilização da Liberdade para fins nobres ou que minimamente se enquadrem em padrões de uma convivência saudável em sociedade. Cada vez mais esses padrões se deterioram.

Ora, seria descabido e até injusto culpar os jovens por esta decadência, pois na verdade somos apenas um produto daquilo que nos transmitem, através de actos ou palavras, daquilo que nos permitem e daquilo que nos impõem ou não e, diz o povo e com razão, a educação vem de casa.

Chegamos então ao primeiro problema, o primeiro foco causador de uma formação pessoal deficiente, o lar. Se uma criança vê o pai a cuspir e a deitar lixo para o chão, a dizer palavrões, a apresentar como solução para os conflitos a violência e até a exercê-la contra membros da família, um jovem, por mais que seja repreendido para não o fazer, aceitará essas atitudes, não como erradas, mas como algo que é normal fazer, um exemplo de como agir de forma correcta perante as adversidades e será na sua emancipação, na transição de criança para adulto, que começará a exercê-la com mais vigor. Penso que a postura dos pais em frente de uma criança, terá porventura mais influência no estabelecimento de padrões comportamentais correctos, do que propriamente a acção directa.

E nessa postura incluem-se comportamentos tão simples como as situações em que se riem (se uma criança deve rir-se ou não daquela situação), as palavras escolhidas e a forma de as transmitir (os palavrões e o volume em que as palavras são difundidas consoante a situação), as soluções encontradas para os problemas (se a violência é ou não algo a ponderar em qualquer situação), a postura em sociedade (o sorriso e a saudação no cumprimento, a resposta às saudações como bom dia e boa tarde), os comportamentos que constituem regras passíveis de punições quando não respeitados (como os limites nas brincadeiras, o respeito pela liberdade dos outros como os gritos ou as correrias excessivas em locais que não são próprios para o efeito) e também, sempre, um equilíbrio emocional permanente na imposição dessas regras e na postura perante os outros.

Uma educação sem regras rígidas e coerentes, como punições por atitudes sempre que estas se manifestam e não “quando estão a abusar”, provocarão muitas birras certamente, mas mostrarão que um certo tipo de atitudes, a forma de agir, terá que andar naqueles padrões, sob pena de resultar numa punição que é inevitável e que não pode ser combatida e muito menos vencida por insistência. Ensinar a perder é a melhor forma de incentivar uma conduta vencedora e não, a expressão “faz o que eu digo, mas não faças o que eu faço”, não se aplica aos pais em relação aos filhos.

Não adianta encontrar outros culpados que não sejam os pais pela ausência de regras e de uma postura correcta em sociedade pois, mais uma vez, os jovens são um produto da formação primária que receberam, e essa formação provém, geralmente, dos pais.

Constato que a evolução dos tempos, o aumento do grau de escolaridade média, trouxe à nossa sociedade, cidadãos mais informados, mas também que esqueceram os pilares fundamentais da sua formação. Os tempos em que os pais se sentiam envergonhados e responsáveis directos pelas atitudes dos filhos, já lá vai. Agora arranjam-se desculpas como “não sei o que fazer com ele” ou “ele não me obedece”, quando essa tentativa de desresponsabilização é também sintomática de uma formação já por si ausente de regras e procedimentos de imposição de padrões comportamentais bem definidos.

Esta introdução nada tem a ver com a “traquinice” ou em idade mais avançada, a “rebeldia”, pois essas são saudáveis e revelam acima de tudo inteligência e capacidade para contrariar o que está estabelecido e imposto e, quando utilizadas numa lógica de respeito para com os outros ou em prol de uma melhoria daquilo que manifestamente está errado e que se revela necessário para um futuro melhor, poderão ser produtivas.

Não é o que se tem passado em Castanheira de Pera. Tenho pena de o dizer pois considero-me alguém relativamente próxima da juventude castanheirense, que tem de facto muito potencial, mas que nos vai brindando com atitudes que, enquanto defensor da formação da juventude para alicerçar o futuro, me envergonham. Em pouco mais de 2 meses, o parque infantil do Fórum foi vandalizado e, é constantemente mais utilizado por crianças com idades superiores a 15 anos. Já na Praça da Notabilidade, as constantes garrafas partidas no pavimento, vidros partidos e, na passada semana a destruição de papeleiras, caixotes do lixo e o derrube de bancos com peso superior a uma tonelada, revelam um total desrespeito pelo património de Castanheira de Pera, um profundo desrespeito pela sua terra, uma desconsideração inqualificável perante a comunidade.

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O sentido de impunidade que se verifica, dá um contributo e até um certo incentivo a que estes actos lamentáveis se sucedam e continuem a acontecer, porque de facto, os responsáveis não são apanhados, o policiamento que se via anteriormente é o mesmo que se vê agora naquelas áreas e, assim fica difícil. Não pretendo que os responsáveis sejam crucificados, nada disso, mas umas horas de trabalho comunitário a reparar os danos que causaram, uma consciencialização do custo que as coisas têm e a condenação das suas acções pela sociedade, dariam certamente uma lição a esta juventude que, mais uma vez, nestes casos é geralmente o último culpado.

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Longe vai o tempo quando o refúgio para fumar uns cigarros e beber umas cervejas era o fundo do Jardim, e quantas vezes o Comandante Mário Rodrigues aparecia “para beber um copo”, ou seja, verificar o que estávamos a fazer, se estávamos a fazer estragos e advertir-nos por causa do barulho, em suma, dispersar-nos. Quantas vezes ao sair de lá, estava a GNR no Jardim durante a noite ou a passar a pé por lá? Havia efectivamente alguma preocupação, não só com o património, mas também com os hábitos dos jovens, e esse é ou não é um dos papeis das forças de segurança enquanto agentes de protecção?

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Por fim, resta-me agradecer a cedência destas imagens ao meu bom Amigo Filipe Lopo e salientar o importante contributo que a sua página de Facebook “Acontece, Castanheira Com-Vida” dá a Castanheira de Pera, realizando um notável serviço público e, o pormenor de excluir tudo o que não seja benéfico para Castanheira de Pera dessa página, deixando a publicação de tristes exemplos como estes, para a sua página pessoal, deixa a nu o propósito nobre dessa página.

Não me interessa com este artigo punir ou perseguir a juventude Castanheirense, interessa-me sim que este texto lhes chegue como um pedido de respeito por Castanheira de Pera e pelo seu estatuto de juventude e futuro de Castanheira de Pera e de Portugal, só isso.

“somos apenas um produto daquilo que nos transmitem(…) daquilo que nos permitem e daquilo que nos impõem”

“Ensinar a perder é a melhor forma de incentivar uma conduta vencedora”

 

 

 

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