2 – A candidatura à Rede dos Castelos e Muralhas medievais
Já lá vão 15 anos. Tudo tende a esquecer, mas um facto objectivo é que Pedrógão Grande está cada vez mais atrasado, pelo que há que recuperar das oportunidades perdidas. Acreditamos, no entanto, que em breve se possa emendar a mão a esse passado de desleixo e incompetência, pelo
que o lançamento do programa da “Rede dos Castelos e Muralhas da Linha de Defesa do Mondego”, patrocinada pela Direcção Regional da Cultura do Centro, poderá ser hoje uma alternativa – ainda que tardia e pior apetrechada financeiramente – para a recuperação e alindamento do Centro Histórico de Pedrógão Grande, proporcionando-lhe visibilidade e a promoção do seu antiquíssimo património medieval.
Essa a razão porque o autor, a 26 de Novembro de 2015, propôs ao actual Executivo autárquico[5] que de imediato diligencie a candidatura do concelho ao novo Programa dos Castelos e Muralhas, à semelhança do que já o fizeram os municípios – designadamente os mais próximos – de Penela, Miranda do Corvo, Lousã, Ansião e Alvaiázere, aproveitando do seu glorioso e bem documentado passado histórico e monumental. Tal facto justifica-se a todos os títulos porque a “Rede de Castelos e Muralhas da Linha de Defesa do Mondego” mais não é que a linha de defesa Sul do Condado Portucalense, onde Pedrógão Grande se integra historicamente desde há mais de 880 anos[6]. A legitimidade do nosso concelho integrar essa Rede acresce ainda quando se verifica que Pedrógão Grande é, simultaneamente, o ponto de charneira (encontro) com a perpendicular linha de defesa do Condado Portucalense a leste, ao longo de todo o percurso do Zêzere até aos domínios raianos da Guarda, ao longo dos imponentes maciços rochosos da Lousã, Açor e Estrela.
Na verdade, Pedrógão Grande surgiu em 1135 num alargado “palco de conflitos armados, de instabilidades e perigos, mas também de convivências, permeabilidades e amores”, contribuindo desde a primeira hora para uma “história fascinante da qual somos legítimos herdeiros”, pois nascemos a oriente do Condado Portucalense como apoio de montanha, defendendo os flancos do reino, em simultâneo que D. Afonso Henriques persistia no seu avanço para sul, implantando aí o imponente castelo de Leiria, como primeiro ponto de contenção e embate das tropas mouras com origem em Santarém e nos seus redutos meridionais. Pedrógão Grande fez indiscutivelmente parte do grandioso projecto de Afonso Henriques de conquistar Lisboa, abrindo caminho até aos Algarves. Que mais se lhe pode pedir?…
Perante os fundamentos invocados, para que a Câmara Municipal de Pedrógão Grande avance na sua candidatura a este Programa da Rede dos Castelos e Muralhas, o respectivo Presidente informou o autor (bem como a vereação presente nessa sessão pública de 26 de Novembro de 2015) que “está atento a todos estes aspectos, a nível cultural e histórico, estando a ser desenvolvidos estudos para este efeito, com uma futura (sic) Comissão liderada pelo Prof. Miguel Noras e outras entidades, assunto que será presente ao Executivo Municipal na próxima reunião”. A vereação concordou no essencial com a proposta dessa candidatura, adiantando mesmo o vereador Bruno Gomes que uma outra candidatura em curso para a realização de obras na Igreja Matriz (que remonta a finais do Séc. XII) poderia eventualmente vir a beneficiar da inscrição na mencionada Rede.
Apesar das belas palavras, expressão seguramente de melhores intenções, a verdade é que nada nos consta quanto a decisões concretas, pelo que de novo a 27 de Abril de 2017 o autor deste texto relançou a sua proposta em reunião pública do Executivo pedroguense e “solicitou uma análise do assunto para possível candidatura” de Pedrógão à Rede dos Castelos e Muralhas, “onde podia ser incluído o Forno Romano, a Ponte (romana do Cabril), a Igreja Matriz e a Torre do Relógio”[7], porque entretanto a Agência que gere o programa teria alargado a sua atenção sobre os achados romanos dispersos por tão vasto território como o que vai de Coimbra a Alvaiázere.
Mais recentemente, tendo em vista colaborar em consulta pública em curso, lançada pela Unidade de Missão Para a Valorização do Interior (UMVI), quanto aos meios de revitalização do concelho de Pedrógão Grande, consideramos que alguns dos contributos e propostas (que de momento se podem considerar prioritárias para que se atinja esse desiderato) passam pela urgente candidatura de Pedrógão Grande ao Programa da Rede de Castelos e Muralhas da Linha de Defesa do Mondego e, com base no financiamento aí possível, por acções concretas tendo em vista, designadamente, 1) – a transformação da Torre do Relógio, no sítio do Penedo, em miradouro público; 2) – a prospecção arqueológica das bases da muralha de suporte da Torre do Relógio (ou Torre do Penedo); 3) – a criação de um Museu Etnográfico e Arqueológico e/ou Centro de Interpretação da Vila e do seu Centro Histórico medieval; 4) – a recuperação e valorização do Forno Romano do Cabeço da Cotovia; 5) – a edição de monografias sobre o Centro Histórico de Pedrógão Grande, o Cabril e Vale do Zêzere, dando-os a conhecer junto do grande público.
No que reporta a este conjunto de propostas, há a sublinhar que o Presidente Valdemar Alves – aquando da interpelação por nós feita a Abril de 2017 – informou que “já neste mandato (…) a Câmara Municipal declarou de Interesse Público o Forno Romano e está a analisar a aquisição de um imóvel anexo à Torre do Relógio para (integrar o) património municipal”.
Para finalizar, diremos que – a crer em “site” da Rede de Castelos e Muralhas, onde se declara que esta “procura dignificar essa História (comum) e criar a partir do património histórico e cultural (da região) um produto turístico de excelência, assente na (…) mobilização de parceiros para a criação de dinâmicas conjuntas” – não temos dúvidas de que estamos no caminho certo para a valorização e renascimento de Pedrógão Grande. E se “a campanha que agora empreendemos é longa e desafiante” todos não seremos certamente demais para recuperar a nossa História de mais de 880 anos. Mas que nunca esmoreçamos na vigilância, no incentivo e no acarinhamento daqueles a quem cabe a nobre missão de reafirmar Pedrógão Grande como uma excepcional Aldeia Histórica. Não é por acaso que está em preparação o livro “Pedrógão Grande e o Cabril, de Encantos Mil”.
Aires B. Henriques
Economista; Ex-Presidente da Direcção da Casa de Pedrógão Grande em Lisboa.