Aires B. Henriques: António Maria da Silva Barreto

António Maria da Silva Barreto

António Maria da Silva Barreto era natural de Alcochete[1], onde nasceu a 14 de Abril de 1865. Era o mais novo de quatro filhos de Joaquim Maria da Silva Barreto (natural de Aldeia Galega da Merceana / Alenquer)[2] e de Maria Luiza dos Santos (natural de Alcochete).

Seu pai, que nasceu em 1834 e faleceu em Outubro de 1864 (com apenas 30 anos de idade)[3], foi professor primário no Samouco, no concelho de Alcochete, onde casou e tinha a alcunha de Vidraças.

António Maria da Silva Barreto, que nasceu mais de cinco meses após o c-falecimento do pai, virá a frequentar a Casa Pia de Lisboa como instituição especialmente concebida para a educação de órfãos e a valorização das crianças pelo aprendizagem de uma profisssão, possibilitando aos mais dotados prosseguir os seus estudos com vista a uma formação superior.

Assim se compreende que, à data da sua primeira eleição como deputado em 1911, se apresente como possuidor de “diplomas de habilitação para o magistério e preparatórios liceais”, assim como a colaborar em alguns jornais da província[4]. Foi, assim, professor liceal, professor da Escola Normal de Leiria, Chefe de Repartição do Ministério da Instrução Pública (1915/1918) e senador da Primeira República Portuguesa.

Casou com Camila Cardoso, sem que tenha deixado descendência. Foi tio de Álvaro Salvação Barreto, que se tornará famoso como chefe dos odiados Serviços de Censura do “Estado Novo”.

Foi iniciado na Maçonaria em 7 de Junho de 1907, com 42 anos de idade, quando ainda era apenas professor primário; sendo na realidade um dos onze fundadores[5] da Respeitável Loja Gomes Freire, ao Oriente de Leiria[6], uma das mais esforçadas e mais antigas oficinas maçónicas que se formaram no país após a chegada de Sebastião de Magalhães Lima ao Grão-Mestrado do GOLU (e que o vai reorganizar e preparar as condições para o derrube do regime monárquico em Portugal). Adoptando o nome simbólico de “Danton”, chegou a atingir o grau 25º do Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA) e a exercer o cargo de Venerável.

Em Outubro de 1909, aquando da visita do rei D. Manuel II a Leiria, António Maria da Silva Barreto desempenhava o cargo de vice-presidente do Grémio Gomes Freire, braço profano da Loja maçónica com o mesmo nome.

Foi também Presidente da Comissão Distrital Republicana, mantendo-se sempre fiel ao grupo do Partido Democrático.

Em 28 de Maio de 1911 foi eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte pelo círculo eleitoral nº 29, de Leiria, ocupando a partir de Agosto o lugar de senador da República. Continuará a concorrer para o Senado em representação do Partido Democrático (PRP), como sucedeu em 1915 ao lado do capitão de engenharia Herculano Jorge Galhardo, e a ser sucessivamente eleito até 1926 por Leiria. A excepção terá a ver com o período sidonista (1918), em que assumirá o cargo de Chefe da Repartição de Instrução Primária e Normal.

Foi um dos principais patrocinadores da autonomia político-administrativa das freguesias de Castanheira de S. Domingos e do Coentral relativamente a Pedrógão Grande e, por isso, uma da personalidades presentes a 4 de Julho de 1914 na sessão pública de tomada de posse da Comissão Instaladora do novo concelho de Castanheira de Pera, onde interveio ao lado do colega senador Dr. Abílio Baeta das Neves Barreto, dos deputados Victorino Henriques Godinho e Fernando Bissaia Barreto Rosa e do Director-Geral da Assistência, Dr. Augusto Baeta das Neves Barreto.

Em face da presença na sessão de um grupo apreciável de senhoras[7] de Castanheira de Pera, o que dava um maior realce a esse acto cívico, e porque seguramente era também conhecedor da realidade associativa vivida no Coentral, com a inauguração um ano atrás[8] da escola feminina do Centro Escolar Democrático União Coentralense, a intervenção do Dr. Silva Barreto, para além das palavras elogiosas que dirigiu ao Dr. Eduardo Correia – presidente dessa Comissão Instaladora -, evocou o que “se tem falado dos destinos da nossa República” e quanto ao “progresso da nossa Pátria”, para declarar que “à mulher (se) dirige”, pois “a ela pertence a principal função desse progresso. Eduquemo-la para que nos eduque”.

E, como as festividades se mostrassem propícias para avivar uma antiga aspiração que o Visconde de Castanheira de Pera alentava à data da sua morte (1911) – para mais avizinhando-se novas eleições para o Parlamento (em 1915) -, Silva Barreto termina o seu discurso afirmando que “se compromete solenemente a patrocinar a criação de uma escola profissional” no recém nascido concelho. Porém, ainda que posteriormente eleito para o Senado da República, e a despeito das diligências de outros cidadãos, tal promessa nunca passou o nível da aspiração e da hábil declaração de agrado e boas intenções.

António Maria da Silva Barreto morreu a 18 de Junho de 1943, com 78 anos de idade.

 

 

 

[1] Luís Kalidás Barreto, a págs. 272 e 418 da 3ª edição da sua Monografia do Concelho de Castanheira de Pera refere-o como nascido aqui, o que de todo deve ser ignorado por nenhuma das fontes por nós consultadas o confirmar. Ainda que admitamos que mesmo estas outras fontes evidenciem erro nessa atribuição, a alternativa apontará como local de nascimento mais plausível o concelho de “Aldeia Galega” ou “Aldegalega” (o actual Montijo), na margem sul do Tejo, vizinho de Alcochete.

[2] Subsistem dúvidas quanto ao local do seu nascimento, sendo que algumas fontes referem “Aldeia Galega” ou “Aldegalega”, povoação que a partir dos anos 30 do Séc. XX passou oficialmente a denominar-se de “Montijo”. Na realidade, para a distinguir da Aldeia Galega da Merceana, o actual Montijo era ainda conhecido por Aldeia Galega do Ribbatejo.

Ver  https://www.geni.com/people/Joaquim-Maria-Barreto/6000000111932889847

[3] Este Joaquim Maria Silva Barreto (pai de António Mª S. Barreto), nasceu a 9 de Julho de 1834, faleceu a 28/10/1864, e era filho de José Maria da Silva Barreto e Silvéria Rosa. A data de 7/9/1864 que por vezes aparece como sendo a do seu nascimento é, mais provavelmente, a data do respectivo baptizado.

Ver  https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Maria_da_Silva_Barreto

[4] “As Constituintes de 1911 e os seus deputados”, a págs. 224, 259, 505 (lista de senadores).

[5] Os demais fundadores foram: – António Oliveira Mendes Cavaleiro (n.s. César); Gaudêncio Pires de Campos (n.s. Lavoisier); Joaquim Coelho da Palma (n.s. Petrónio); Joaquim Nunes Sequeira (n.s. Catilina); José Pereira da Cunha (n.s. Lafayette); Tito Benevenuto Lima de Sousa Larcher (n.s. Camões, que chegará a exercer as funções de Administrador do concelho de Pedrógão Grande); Carlos Varela Lopes (n.s. Viriato); Eduardo Pedroso da Silva (n.s. Cadete); Manuel da Assumpção (n.s. Faber); e Tomás Costa Santos (n.s. Pasteur).

[6] “A Maçonaria ao Vale de Leiria e a respeitável Loja Gomes Freire”, de Aires B. Henriques, ed. Cadernos de Estudos Leirienses nº 6, Dezembro 2015, ed. Textiverso, Leiria.

[7] A sua presença já antes havia sido sublinhada pelo deputado Victorino Godinho, fazendo elas certamente parte de uma comissão de meninas previamente incumbidas de organizar uma “Kermesse”, “cujo produto conseguido reverteria em especial para a compra da mobília para a Sala das Sessões do novo concelho”. Vide Acta da sessão inaugural de 4/7/1914; e o jornal Ribeira de Pera nº 20, de 27/9/1914.

[8] Inaugurada a 31 de Agosto de 1913.

 

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